Relações inter-pessoais

Relações inter-pessoais

Novo Acordo Ortográfico

O novo acordo ortográfico está em vigor. No entanto, ainda tenho algumas dificuldades em cumprir todos os preceitos. A partir de 17 de Abril, vou tentar escrever de forma adequada às novas regras. Vou tentar!!

domingo, 17 de abril de 2011

Disfuncionalidades da comunicação

Bateson e Watzlawick, citados por Costa e Matos (2007), afirmam que a “melhor forma de compreender um sistema é através dos seus padrões de comunicação analógica (não verbal e desprovida de código semântico) e digital (codificada e essencialmente verbal) entre os seus membros” (p. 22). Na escola, devemos procurar que a comunicação digital seja acompanhada da analógica, de modo a que a mensagem pretendida seja recebida de forma eficaz, não provocando disfuncionalidades. Por outro lado, na perspetiva da escola de Palo Alto, toda a mensagem tem dois níveis: o conteúdo e a metacomunicação Costa e Matos (2007, p. 23).  Segundo esta corrente, as relações podem ser simétricas ou de complementaridade. Na escola, devemos ter estes aspetos em consideração. Assim, poderão ser evitadas as disfuncionalidades da comunicação, apresentadas por Costa e Matos (idem): escalada, em relação às relações simétricas (entre alunos, entre professores), rigidificação e comunicação paradoxal, em relação às relações de complementaridade (entre professores e alunos, por exemplo).
Assim, para evitar a escalada, deve-se estar atento às lutas de poder, de protagonismo que podem existir e que não sendo abordadas convenientemente, poderão criar situações de tensão progressivamente crescente e fugir ao nosso controlo.
Para evitar a rigidificação, devemos ter em conta as necessidades atuais dos alunos, devemos ter flexibilidade para mudar padrões transacionais, de acordo com a situação.
Por fim, para evitar a comunicação paradoxal, julgo que o melhor é que cada um desenvolva a sua atividade de forma profissional e coerente, numa cultura de verdade.

Costa, E.; Matos, P. (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Universidade Aberta.

A metacomunicação na Escola de Palo Alto

Bem prega São Tomás: Faz o que ele diz, não o que ele faz.”

Quando trabalhamos com pessoas não podemos ser como São Tomás, pois a falta de coerência tira credibilidade e, consequentemente, dificuldade na gestão dos grupos. Não deve haver uma comunicação paradoxal em que se verifique uma “contradição entre a mensagem e a metalinguagem” (Costa e Matos, 2007, p. 24). Qualquer gestor de grupos tem que se preocupar com a forma como comunica e com as implicações das mensagens que transmite.
A escola é um meio de socialização por excelência. Os alunos passam na escola uma grande parte do tempo diário e aí se estabelecem interrelações com colegas e adultos. Muitas vezes, a vida profissional faz com que os filhos apenas estejam em casa com os pais escassas horas, que nem sempre são aproveitadas para estreitar as relações familiares. Assim, apesar de haver uma matriz familiar, as interrelações que se estabelecem na escola são muito importantes. A escola não pode, ou não deve substituir a família, mas tem que levar em consideração o contexto histórico em que vivemos. A escola tem que saber comunicar e metacomunicar, tem que ser uma organização aprendente. Não basta à escola, ser como São Tomás. Tem que saber que as práticas são importante exemplo na definição das relações interpessoais entre os diversos atores.

Costa, E.; Matos, P. (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Universidade Aberta.

O Interacionismo simbólico e a Escola de Palo Alto no quotidiano

Podemos estabelecer relações entre o quotidiano e o interacionismo simbólico e a escola de Palo Alto. Na nossa vida particular ou na nossa vida profissional, podemos, facilmente, concluir que a comunicação não é um processo linear. É, antes, um processo circular, de interrelações sociais que se afetam reciprocamente. 
Na escola, a busca das causas redunda muitas vezes em fracasso, porque qualquer comportamento, tem de ser visto num contexto bastante alargado, o que nem sempre é possível. Por isso, procuram-se as causas. Costa e Matos (2007, p. 14) alertam que “nenhum comportamento pode ser analisado numa perspetiva de causa efeito, mas examinando um conjunto alargado de componentes bem como a diferentes níveis”.
Muitos dos conflitos que observamos na escola, muitas vezes, de difícil resolução, são, essencialmente, problemas comunicacionais. A procura das causas surge como uma forma de os resolver. No entanto, esse procedimento não é por norma eficaz. É necessário adotar uma postura diferente. “Para provocar mudança é necessário explorar as relações de forma circular ou reflexiva, levando  os seus elementos a pensar,  agir e sentir de forma diferente” (Costa e Matos, 2007, p. 25).
Tendo em conta que tudo o que o professor diz ou faz tem influência nos seus alunos, os docentes devem cuidar da forma como comunicam e metacomunicam com os alunos. Os alunos são jovens em crescimento e o professor pode ter grande importância no desenvolvimento da personalidade do aluno pela atitude que apresenta perante os discentes. Os alunos são, por norma, muito perspicazes em relação à postura do professor. Eles adaptam-se com muita facilidade. Por exemplo, nas escolas temos, por vezes, turmas de alunos que apresentam alguns problemas de indisciplina. No entanto, mesmo nessas turmas, ouvimos professores que afirmam: “eu não tenho nenhum problema com eles!”. Os alunos adotam uma postura diferente de acordo com o contexto. Essa alteração de comportamento pode acontecer porque o professor é mais rigoroso, ou, por outro lado porque é um «amigo». Os alunos adaptam-se ao contexto, sabem até onde podem ir. De qualquer maneira, é importante que os alunos sintam que o professor tem uma postura equilibrada, e que age de forma justa e equitativa.

Costa, E.; Matos, P. (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Universidade Aberta.

Palo Alto e o Interacionismo Simbólico

Ambas as correntes nascidas no sec. XX consideram a comunicação, sobretudo, como interação social. Segundo Rizo (s. d.), em ambas as correntes, as relações sociais são estabelecidas interativamente entre os indivíduos e o modo de comunicação pode ser entendido como base de toda a relação (p. 3). De um modo geral, podemos afirmar que, para ambas as correntes, sem comunicação não há sociedade (Rizo, s. d., p. 15).
Cada situação de interação tem que ser vista com a bagagem simbólica que os sujeitos possuem e a interação simbólica, a comunicação, é o meio pelo qual se realiza a socialização humana. Para Rizo, os contributos do Interacionismo Simbólico e da Escola de Palo Alto evidenciam a importância de devolver à comunicação o seu significado originário: pôr em comum, o diálogo, a comunhão (p. 15).
Apesar de serem, atualmente bem aceites, estas teorias são também alvo de críticas. Borelli (2005, p. 82) refere que as duas escolas apresentam uma “limitação a fenómenos de ordem apenas interpessoal” e “as relações de poder/dominação são ignoradas”, não tendo em conta “a complexidade das relações macro”. 
A mesma autora refere, ainda, que outra das críticas a “essa visão holística da comunicação é que ela estenderia suas fronteiras para muitos campos, perdendo seus fundamentos mais significativos” (idem).

Borelli (2005). É impossível não comunicar”: reflexões sobre os fundamentos de uma nova
comunicação. In Diálogospossíveis, Ano 4, n.2 (agos./dez. 2005)

Rizo, M. (s. d.). El interaccionismo simbólico y la Escuela de Palo Alto. Hacia un nuevo concepto de comunicación. Disponível em http://www.portalcomunicacion.es/download/17.pdf, acedido em 2011-04-16

A comunicação segundo a Escola de Palo Alto

“A comunicação é como uma orquestra sem maestro, na qual todos os músicos são parte do show e fazem a sua própria música a partir de códigos comuns que orientam seus comportamentos (seria a partitura) (Borelli, 2005, p. 78). 

Na perspetiva de Palo Alto, a comunicação é, sobretudo, relacional.  “A interação humana é complexa porque não temos controle sobre os outros, nossas ações podem ser conscientes em muitos momentos, mas são inconscientes em tantos outros” (idem, p. 80). Uma das premissas desta escola é que “não é possível não comunicar” (Costa e Matos, 2007, p. 22). A comunicação é um processo plural, embebido de significados. O silêncio, a postura são vistas como formas de comunicar.
Estas autoras distinguem dois níveis numa mensagem: “o conteúdo e a metacomunicação” (idem). A metacomunicação vai para além do conteúdo, sendo vista como uma comunicação sobre a comunicação, podendo reforçar o conteúdo, ou, por outro lado, contrariá-lo.

Borelli (2005). É impossível não comunicar”: reflexões sobre os fundamentos de uma nova
comunicação. In Diálogospossíveis, Ano 4, n.2 (agos./dez. 2005)
Costa, E.; Matos, P. (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Universidade Aberta.

A Escola de Palo Alto

A Escola de Palo Alto emergiu na década de 40 do séc. XX a partir dos contributos de cientistas de várias áreas (este grupo também ficou conhecido por Colégio Invisível) e de diferentes áreas geográficas, unidos numa mesma preocupação teórica. Um dos principais precursores desta teoria foi Gregory Bateson. Ganhou-se, assim, uma nova conceção de comunicação humana. A comunicação deixa de ser vista numa perspetiva linear, passando a ser encarada numa lógica circular, em que existe um sistema de interações e em que a “participação do indivíduo não é a de um recetor, mas se dá proativamente”  (Santos e Dionízio, 2010, p. 7).  Estas autoras referem que “o princípio de retroalimentação ou circularidade proposto pela cibernética” (idem) é uma base desta corrente e que na comunicação “há movimentos de idas e voltas que provocam transformações tanto nos sujeitos como no sistema em que se engajam” (ibidem).  Nesta perspetiva sistémica, de causalidade circular, “os acontecimentos relacionam-se de forma interativa, de tal forma que  cada um é simultaneamente causa e efeito do outro” (Costa e Matos, 2007, p. 13). Os acontecimentos ocorrem, assim, de foram simultânea e influenciam-se reciprocamente numa lógica de relações e interações.  As relações comunicativas são vistas enquanto sistemas que “possuem uma organização que lhes confere continuidade/estabilidade, são autónomos, não lineares, dissipativos, ativos, abertos, e com capacidade de auto-organização” (Costa e Matos, 2007, p. 21). Bateson, citado por Santos e Dionízio (2010), foca-se na configuração da comunicação como um sistema de interações com implicações micro e macro estruturais (p. 7). No mesmo artigo, estas autoras referem que Bateson “aponta para o fato de que os sujeitos modelam seus atos significativos em função daquilo que identificam como socialmente esperado, ajustando então a sua compreensão e as suas ações”.
Para Rizo (s. d., p. 12), a comunicação é um processo social permanente que integra múltiplos modos de comportamento, como a palavra, o gesto, o olhar e o espaço interindividual.
Watzlawick, Jacskon y Beavin (1971), na obra  Teoria da Comunicação Humana explicitam os denominados “Axiomas da Comunicação”:
  • É impossível não comunicar, ou seja num dado sistema, todo o comportamento, de um indivíduo, tem um valor comunicativo para os outros;
  • Em toda a comunicação tem que se distinguir entre aspetos de conteúdo e aspetos relacionais entre emissores e recetores;
  • A definição de uma interação está sempre condicionada pelas sequências de comunicação entre os participantes;
  • Toda a relação de comunicação é simétrica ou de complementaridade, segundo se baseie na igualdade ou na diferença entre os indivíduos que participam nela. (idem, p.13)

Costa, E.; Matos, P. (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Universidade Aberta.
Santos, A. e Dionízio P. (2010). Sobre uma abordagem propriamente comunicacional: experiência, prática e interação. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Caxias do Sul, RS – 2 a 6 de setembro de 2010
Rizo, M. (s. d.). El interaccionismo simbólico y la Escuela de Palo Alto. Hacia un nuevo concepto de comunicación. Disponível em http://www.portalcomunicacion.es/download/17.pdf, acedido em 2011-04-16

Mind

No interacionismo simbólico, o conceito de mente não se refere a uma entidade física, mas a um processo mental ou atividade (Mendonça, 2002, p. 12). Segundo Manis e Meltzer, “o aparato fisiológico é indispensável para a formação da mente, mas é a sociedade e a interação social que, utilizando o cérebro, formam e desenvolvem a mente” (idem).  A mente ou espírito, de acordo com Santos e Dionízio (2010), é “uma instância reflexiva e mediadora da relação estabelecida entre self e sociedade”(p. 6). Haguette refere que “a mente é entendida por Mead como um processo que se manifesta quando o indivíduo interage consigo próprio utilizando símbolos significantes” (Mendonça, 2002, p. 12).

Mendonça, J. (2002). Interacionismo simbólico: uma sugestão metodológica para a pesquisa em administração. In REAd – Edição 26 Vol. 8 No. 2, mar-abr 2002
Disponível em: http://seer.ufrgs.br/read/article/view/15646, acedido em 2011-04-12

Santos, A. e Dionízio P. (2010). Sobre uma abordagem propriamente comunicacional: experiência, prática e interação. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Caxias do Sul, RS – 2 a 6 de setembro de 2010

Society

Uma das peculiaridades do interacionismo simbólico é importância que esta corrente dá ao contexto, à situação.  Segundo Goulart e Bregunci (1990), “analisando como a pisque se torna desenvolvida, reflexiva, criadora, responsável de  si, Mead apontou a influência de um fator desprezado pelas escolas psicológicas: a sociedade” (p. 52). Mendonça (2002) destaca que o papel das interações e das relações interpessoais no comportamento cooperativo. Para este autor, a sociedade, do ponto de vista do interacionismo simbólico, é vista “como um processo de atividade em andamento, de variadas interações, não com um sistema, estrutura ou organização relativamente estática” (p. 11).  Mendonça destaca, ainda, que “a associação humana surge apenas quando: a) cada ator percebe a intenção dos atos dos outros, e b) constrói sua resposta com base nessa intenção” (p. 12).
Goulart e Bregunci (1990) referem que na perspetiva de Mead,  “o indivíduo só se constitui pessoa autoconsciente sobre a base de sua pertinência a uma dada sociedade, que pré-existe em relação a ele” (p. 53). Assim, a adoção de papeis estão fortemente dependentes da introjeção social,  do contexto histórico-social e da internalização sócio cultural.  Para Goffman, cuja abordagem, Goulart e Bregunci (1990) denominam de dramatúrgica, “o indivíduo vê o seu próprio comportamento, mas também o dirige, o guia, modelando as imagens de si mesmo que são acessíveis aos outros” (p. 54). Nesta perspetiva, este autor destaca o papel das «máscaras institucionais». A influência da sociedade é, segundo Mead, preponderante no comportamento humano, é através dela que o “animal impulsivo se transforma em animal racional, num homem” (Goulart e Bregunci, 1990, p. 53). Berger, que também se posiciona na linha do interacionismo simbólico, analisa a interiorização da sociedade pelo indivíduo e “realça o papel dos outros significativos e da estrutura social na construção de uma identidade coerente e plausível” (p. 55).


Goulart, I. e Bregunci, M. (1990). Interacionismo simbólico: uma perspetiva psicossociológica. In Aberto, Brasília, ano 9, n. 48, out./dez. 1990. Disponível em: http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/issue/view/56, acedido em 2011-04-14

Mendonça, J. (2002). Interacionismo simbólico: uma sugestão metodológica para a pesquisa em administração. In REAd – Edição 26 Vol. 8 No. 2, mar-abr 2002
Disponível em: http://seer.ufrgs.br/read/article/view/15646, acedido em 2011-04-12

Self

Para Bryan, citado por Mendonça (2002), os dois conceitos centrais do interacionismo simbólico são “a definição da situação e o self social” (p.10). Segundo esta perspetiva, o self social é uma mistura de instintos biológicos e obrigações sociais internalizadas.
O self apresenta uma dialética entre o caráter público  e privado do símbolo e é um processo composto entre o “Eu” e o “Mim”. Para Mendonça (2002, pp. 10, 11), o “Eu” é imprevisível, romântico, quixotesco e corresponde a desejos interiores. Por seu lado, o “Mim” “é a capacidade organizada, refletida na capacidade de alguém julgar de interpretar símbolos” (idem), contém “visões de si mesmos”  e constitui fonte de reflexão.  Meltzer, citado por Mendonça (2002), refere que todo ato começa no “Eu” e acaba no “Mim”. Refere, ainda, que o “Eu” dá propulsão enquanto o “Mim” dá direção; o “Eu” inicia os atos e o “Mim” provoca retroação; o “Eu” é espontâneo e o “Mim” é regulativo; o “Eu” tem potencial para atividades criativas e o “Mim” adequa-se a atividade por objetivos, para a conformidade (p. 11).
Segundo Mead, citado por Goulart e Bregunci (1990), o “Eu” representa a “parte comportamental do self e consiste na reação do organismo às atitudes dos outros” (p.53), enquanto o “Mim” é “a série de atitudes organizadas dos outros que cada um adota, como self que tem consciência” (idem). Na mesma linha, referem, ainda, que o homem precisa de introjetar o outro, para desenvolver o self. Assim, a socialização do homem vincula-o à sociedade e também o libera. 


Mendonça, J. (2002). Interacionismo simbólico: uma sugestão metodológica para a pesquisa em administração. In REAd – Edição 26 Vol. 8 No. 2, mar-abr 2002
Disponível em: http://seer.ufrgs.br/read/article/view/15646, acedido em 2011-04-12


Goulart, I. e Bregunci, M. (1990). Interacionismo simbólico: uma perspetiva psicossociológica. In Aberto, Brasília, ano 9, n. 48, out./dez. 1990. Disponível em: http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/issue/view/56, acedido em 2011-04-14

Interacionismo simbólico - Mind, Self and Society

Esta corrente teve como precursor George Mead, cujo trabalho foi seguido por Herbert Blumer. De acordo com estes autores, o mundo social constroi-se por meio da interação, simbolicamente. Mead, na sua obra “Mind, Self and Society” (1972) destaca as  interações comunicativas no processo social. Inicialmente, esta corrente foi denominada de behaviorismo social e, segundo Mendonça (2002), Mead distingue no ato social dois tipos de comportamento. Por um lado, um comportamento externo, observável e, por outro, uma atividade interna, não observável, encoberta.
Mead, estabelece três categorias analíticas:
  • Sociedade – contexto objetivo da ação, atividade cooperativa entre os homens;
  • Self – personalidade social dos indivíduos, formada na experiência, no embate  entre o indivíduo e o corpo social;
  • Mente (espírito) – instância reflexiva mediadora entre o Self a sociedade, individualização/interiorização de  normas e expectativas sociais.

Mendonça, J. (2002). Interacionismo simbólico: uma sugestão metodológica para a pesquisa em administração. In REAd – Edição 26 Vol. 8 No. 2, mar-abr 2002
Disponível em: http://seer.ufrgs.br/read/article/view/15646, acedido em 2011-04-12

O interacionismo simbólico – principais fundamentos

Entre 1890 e 1940,  um grupo de teóricos e pesquisadores de várias áreas, com uma orientação política reformista, procurou tornar a sociologia uma ciência empírica. Este movimento, baseou-se na filosofia pragmática,  desenvolvida por Charles Peirce e William James, e ficou conhecido como a Escola de Chicago. Foi neste grupo que surgiu o interacionismo simbólico, destacando-se como principais representantes John Dewey e George Mead, que viria a ser seguido por Herbert Blumer.
O interacionismo simbólico, inicialmente denominado de behaviorismo social, segundo Santos e Dionízio (2010), “acredita que o significado e a verdade das coisas só emergem no desenrolar das experiências, fruto da interação social que os sujeitos desenvolvem, situacionalmente entre si e/ou com todo o social” (p. 5). Ou seja, assenta nos três pilares do pragmatismo. De acordo com Mead, o mundo social constroi-se por meio da interação, simbolicamente. Mead, na sua obra “Mind, Self and Society” (1972), destaca as  interações comunicativas no processo social. Segundo Mendonça (2002), Mead distingue no ato social dois tipos de comportamento. Por um lado, um comportamento externo, observável e, por outro, uma atividade interna, não observável, encoberta. Mead  estabelece três categorias analíticas:
  • Sociedade – contexto objetivo da ação, atividade cooperativa entre os homens;
  • Self – personalidade social dos indivíduos, formada na experiência, no embate  entre o indivíduo e o corpo social;
  • Mente (espírito) – instância reflexiva mediadora entre o Self a sociedade, individualização/interiorização de  normas e expectativas sociais.
Mendonça (2002) refere que foi Blumer que cunhou a expressão “interacionismo simbólico” para esta escola de pensamento sociológico. De acordo com Santos e Dionízio (2010, p. 6), há um “ajustamento recíproco entre o homem e o mundo”.  No mesmo sentido, França, citada pelas referidas autoras,  refere que o termo “interação enfatiza a ideia de ação compartilhada, construída numa relação recíproca entre indivíduos” (idem).  Mendonça (2002) afirma que, na conceção de Blumer, os seres humanos interpretam as ações dos outros ao invés de apenas reagirem a essas ações e que a resposta do indivíduo é baseada no valor que ele atribui a essa ação. Para  Santos e Dionízio (2010),  “ao iluminar o processo comunicativo e a sua natureza prática, deixa-se  de entendê-lo como mera transmissão de mensagens para concebê-lo como um processo de interação construído simbolicamente pelos diferentes atores sociais, em um contexto específico” (p. 6). Segundo Mendonça (2002, p. 9), Blumer estabeleceu três premissas do interacionismo simbólico:
  • Os seres humanos agem em relação às coisas com base nos significados que as coisas têm para eles;
  • O significado de tais coisas é derivado da interação social;
  • Os significados são modificados através de um processo interpretativo.
Mendonça (2002, p. 8) destaca também o contributo de Bryman, segundo o qual “a vida social é vista no interacionismo simbólico como um desdobramento no qual o indivíduo interpreta o seu ambiente e atua com base nessa interpretação”. Para Bryman (1995), os conceitos centrais desta corrente sociológica são a definição da situação e o Self. Segundo este autor, o ser humano antes de atuar passa por um “estágio de examinação e deliberação” (idem, p. 9). De forma similar se posiciona Godoy, segundo o qual “o interacionismo simbólico atribui importância fundamental ao sentido que as coisas (objetos físicos, seres humanos, instituições, ideias valorizadas e situações vivenciadas) têm para os indivíduos” (ibidem).
Goulart e Breguci (1990) defendem que o “interacionismo simbólico concebe a conduta humana como plenamente social” (p. 52).


Santos, A. e Dionízio P. (2010). Sobre uma abordagem propriamente comunicacional: experiência, prática e interação. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Caxias do Sul, RS – 2 a 6 de setembro de 2010
Acedido em 2011-04-12

Mendonça, J. (2002). Interacionismo simbólico: uma sugestão metodológica para a pesquisa em administração. In REAd – Edição 26 Vol. 8 No. 2, mar-abr 2002
Disponível em: http://seer.ufrgs.br/read/article/view/15646, acedido em 2011-04-12

Goulart, I. e Bregunci, M. (1990). Interacionismo simbólico: uma perspetiva psicossociológica. In Aberto, Brasília, ano 9, n. 48, out./dez. 1990. Disponível em: http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/issue/view/56, acedido em 2011-04-14

Interacionismo simbólico e a filosofia pragmática

Na década de 70 do séc. XIX, reuniram-se no “The Metaphisical Club”, em Boston, cientistas de vários campos da ciência, dos quais se destacaram: Charles Sanders Peirce, William James, Ferdinand Canning Scott Schiller e John Dewey. Na sequência desses debates, Charles Peirce publicou o artigo “How to Make Our Ideas Clear”, em 1878, que viria a ser considerado o marco inicial do pragmatismo. Segundo Peirce, uma conceção inteletual tem que ser considerada, pensando nas suas consequências práticas. Ou seja, para precisar um conceito, é necessário atender ao seu caráter prático. Peirce estabeleceu três pilares do pragamatismo: antifundacioalismo (as ideias são oriundas da experiência), consequencialismo (relação entre o significado e as consequências) e contextualismo (destaque do contexto no desenvolvimento dos conceitos).
Posteriormente, Willians James e John Dewey contribuíram de forma decisiva para a afirmação do pragmatismo. Estes autores preocuparam-se com a compreensão da ciência e estenderam-na à compreensão de situações do quotidiano. James preocupou-se em “perceber o modo como as ideias, para além de significar, servem para orientar os indivíduos a estabelecer relações na experiência” (Santos e Dionízio, 2010, p. 4). Por seu lado, Dewey destaca a marca experiencial das práticas sociais. Ambos os autores enfatizaram a importância do relacional, do dinâmico e do experencial, e assim, alargaram as fronteiras do pragmatismo, que viria a constituir a base do interacionismo simbólico que nasceu na Escola de Chicago. Há, no entanto alguns autores como Benzies e Allen, citados por Carvalho et al. (2010) que localizam as origens do interacionismo simbólico em tempos mais remotos, nomeadamente,  nas “conceções dos moralistas escoceses do século XVIII e dos idealistas alemães do século XIX” (p. 148).
Santos, A. e Dionízio P. (2010). Sobre uma abordagem propriamente comunicacional: experiência, prática e interação. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – Caxias do Sul, RS – 2 a 6 de setembro de 2010
Acedido em 2011-04-12
Carvalho, V. et al. (2010). Interacionismo Simbólico: Origens, Pressupostos e Contribuições aos Estudos em
Psicologia Social. In psicologia ciência e profissão, 2010, 30 (1), 146-161. Disponível em:
Mendonça, J. (2002). Interacionismo simbólico: uma sugestão metodológica para a pesquisa em administração. In REAd – Edição 26 Vol. 8 No. 2, mar-abr 2002
Acedido em 2011-04-12

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Bullying - Outro ponto de vista!

O Bullying é um fenómeno especialmente violento. Contudo, na escola, devemos abordar o problema, tendo em vista a vítima, mas também o agressor e as testemunhas. Todos sofrem com a situação. Muitas vezes, temos que ver a montante, tentando intervir de forma preventiva e, a juzante, tentando minorar as consequências.

Bullying - Um ponto de vista!

As relações interpessoais - Observações

As relações interpessoais fazem parte do dia-a-dia do ser humano. As escolas são frequentadas por alunos, professores, funcionários, pais e encarregados de educação, bem como por outros membros da comunidade, embora de forma menos consistente. Os diversos actores inter-relacionam-se: alunos/alunos, professores/professores, professores/alunos,… Assim, podemos observar inúmeras relações interpessoais.
Ao longo de alguns dias observei e reflecti sobre as relações que se estabelecem entre os «habitantes das escolas» (expressão utilizada por Costa e Matos, 2007) do agrupamento onde exerço funções. A aceitação é fundamental para que o regular funcionamento do «edifício educativo». Assim, verifiquei que a aceitação está presente no quotidiano das escolas. Na maior parte das situações, os professores aceitam os alunos nas suas diferenças; os alunos aceitam os professores; os alunos aceitam os colegas,… Só assim, é possível a convivência entre todos. Uma forma de aceitação, que também pode ser observada é a popularidade de que alguns alunos gozam. Estes alunos são populares pelas suas características pessoais que evidenciam.
Encaro a aceitação como essencial para o funcionamento da escola. No entanto, num patamar superior temos a reciprocidade nas relações interpessoais que se estabelecem entre os diversos actores. A reciprocidade relaciona-se com as trocas, com a cooperação que dois ou mais indivíduos estabelecem entre si. Pude observar relações de reciprocidade quando os alunos se apoiam nas suas dificuldades, os professores trocam experiências e materiais. A reciprocidade nas relações é meio caminho andado para que estas sejam consistentes e duradouras. A reciprocidade é dar e receber, sem que isso seja imposto, mas de forma espontânea e natural.
A interdependência surge como uma forma de relacionamento em que os indivíduos partilham um mesmo objectivo e se unem, por missão ou por visão, em tarefas comuns. Numa relação de interdependência, cada indivíduo tem um papel importante a desenvolver em prol dos objectivos do grupo. Na escola, as actividades colaborativas implicam interdependência. Pude observar situações de interdependência, na realização de trabalhos de grupo de alunos; na realização da feira do livro (com a colaboração de professores, alunos e funcionários em que cada um teve uma tarefa a desenvolver num tempo específico); no laboratório de formação em que vários docentes, em equipa, se empenharamm na concretização dos objectivos do plano de formação do agrupamento; nas reuniões entre encarregados de educação e directores de turma para resolver problemas ocorridos com os educandos.
A rejeição pode ser vista como a não-aceitação do outro e ocorre por diversos motivos: diferenças culturais, físicas, intelectuais,… No entanto, a rejeição começa, muitas vezes, no próprio indivíduo que tem dificuldade em se relacionar com os outros. As situações de rejeição observadas foram raras. Pude observar uma aluna, que se isola e a isolam, com bastante frequência. Um aluno apresentou uma atitude de rejeição perante as actividades propostas pela professora, recusando-se a cumprir as tarefas que estavam previstas, pondo em causa o desenvolvimento da aula. Tal situação implicou a rejeição da professora que aplicou o procedimento disciplinar de exclusão da sala de aula.