Relações inter-pessoais

Relações inter-pessoais

Novo Acordo Ortográfico

O novo acordo ortográfico está em vigor. No entanto, ainda tenho algumas dificuldades em cumprir todos os preceitos. A partir de 17 de Abril, vou tentar escrever de forma adequada às novas regras. Vou tentar!!

terça-feira, 10 de maio de 2011

As tutorias e a perspetiva dialógica de Vygotsky

Na perspetiva dialógica de Vygostky e de Bakhtin, “a realidade e o conhecimento não são vistas como realidades absolutas, dado que são socialmente construídas” (Escobar e Fraga, p. 45). Assim, na escola  as práticas são vistas “enquanto inter-relações e não como mera transmissão de informações; os professores, como mediadores do conhecimento e não como detentores do saber; e os alunos, como sujeitos ativos na construção desse conhecimento, não como recetores passivos do saber transmitido pelo mestre” (idem). Na perspetiva construtivista de Vygotsky, os alunos devem ser implicados na sua aprendizagem de forma ativa e as suas experiências, o seu contexto sócio-cultural assumem um papel relevante.  Silva alerta para a “necessidade de o professor refletir sobre sua prática pedagógica, no sentido de permitir aos alunos mais troca de experiências e de idéias, possibilitando a construção de sentidos e de significados que devem ser construídos na compreensão responsiva da interação verbal e dialógica” (p. 86).
Por outro lado, Santana e Oliveira (2010) destacam a importância dos “processos de intensa produção e negociação de significados, nas relações dialógicas entre os sujeitos, contextos e mediadores culturais” (p. 104). De facto, as relações dialógicas entre os sujeitos assumem primordial importância no desenvolvimento do pensamento. Para Vygotsky “as palavras desempenham um papel central não só no desenvolvimento do pensamento, mas também na evolução histórica da consciência como um todo” (idem, p. 107). Estas autoras destacam, ainda, a importância do contexto na significação das palavras.
As inter-relações que os alunos estabelecem na escola são preponderantes para que consigam alcançar os objetivos pretendidos. O dialogismo defendido por Vygotsky e Bakhtin leva-nos a uma aproximação às ações tutoriais de que vimos falando. De realçar que para Vygotsky, “o professor é apenas o organizador do meio educativo social, o regulador e controlador da ação de cada aluno” (Silva, 2008, p. 76). A abordagem sócio-cultural de  Vygotsky ajuda-nos a perceber a importância do contexto e das relações no desenvolvimento do aluno. As ações de mediação, como são as tutoriais, podem ter um papel decisivo no sucesso de alguns alunos que apresentam características particulares e requerem uma abordagem diferente, dado que necessitam de mais acompanhamento, de mais apoio e carecem de ações que reforcem a sua autoestima e autoconfiança.

Santana, A. & Oliveira, M. (2010). Análise de um projeto pedagógico. In Revista Lusófona de Educação 16, 2010. Disponível em: http://revistas.ulusofona.pt/index.php/rleducacao/article/viewFile/1871/1493
Acedido em 2011-05-01

Silva, C. (2008).  Pensamento e linguagem: perspetiva interativa e dialógica em sala de aula. In Revista Humanidades, Fortaleza, v. 23, n.º 1, pp. 74-87, jan/jun
Acedido em 2011-05-03
Escobar, A . e Fraga, D. (2007). Sentidos construídos acerca do contexto próximo a partir de uma experiência de educação em língua estrangeira em um ambiente virtual de aprendizagem.
Acedido em 2011-05-07

As tutorias e os processos de resiliência


 
Atualmente, com a massificação do ensino que se verificou há algumas décadas atrás, frequentam a Escola alunos com uma grande heterogeneidade económica, social, cognitiva,… As debilidades que muitos apresentam não pode ser esquecida pelas escolas nem pelos professores. Alguns desses alunos são, sistematicamente, postos de lado pelos diversos atores: são vistos como “casos perdidos”. Contudo, sabemos, por experiência própria, que há muitos casos de sucesso, em que pessoas, hoje bem sucedidas, passaram por grandes dificuldades em determinados períodos da sua vida.
A partir da década de 90 do séc. XX, tem vindo a ganhar destaque ao nível psicológico e sociológico o conceito de resiliência. Pagliarulo refere que se trata de “la facultad que permite a las personas, no obstante las condiciones adversas, salir indemnes y transformadas positivamente por esa experiencia” (p.6). Masten (2001), citado por Cecconello (2003, p. 9), considera a resiliência como um “fenômeno caracterizado por resultados positivos na presença de sérias ameaças ao desenvolvimento da pessoa”. A mesma autora cita  Rutter (1996), para o qual “a resiliência está relacionada com variações individuais em resposta aos fatores de risco” (p. 19). A resiliência é, assim, um processo interativo e dinâmico, em que o indivíduo consegue enfrentar situações adversas, eventos traumáticos, perdas, pobreza extrema, e inverte uma lógica de afundamento através de uma trajetória positiva.
Alguns autores associam a resiliência a fatores de proteção, ou seja aspetos que favorecem a superação das dificuldades. Há em todo o processo uma grande interatividade entre o indivíduo e o meio. Garmezy e Masten (1994), citados por Cecconello (2003,) “identificaram três grupos de fatores de proteção: (1) características individuais, como autoestima, inteligência, capacidade para resolver problemas e competência social; (2) coesão familiar e apoio afetivo transmitido pelas pessoas da família, através de um vínculo positivo com os cuidadores; e, (3) apoio social externo, provido por outras pessoas significativas, como escola, igreja e grupos de ajuda” (p. 24). Marcos (2011) refere-se aos “pilares da resiliência”. Edith Grotberg (1995), citada por Pagliarulo, destaca três fatores: suporte social, habilidades e força interna.
A escola, perante casos de dificuldade, deve atuar, não pode ser “cega e surda”. É obvio que há outras instituições que podem ter um papel importante no acompanhamento de jovens que apresentam quadros traumáticos que perturbam o seu desenvolvimento. Contudo, a Escola tem que ser ambiciosa e dar o seu contributo, não esquecendo que constitui um espaço privilegiado de inter-relações. Os professores devem assumir-se ativamente no apoio a estes jovens. Mas todos os alunos precisam de apoio, de atenção,… A figura de professor tutor pode ser uma resposta da escola. Para Pagliarulo, a tutoria é um processo pelo qual se ajuda os indivíduos,  a conquistar uma autocompreensão e autonomia necessárias para conseguir a máximo adequação às exigências da escola, do lar e da comunidade (p.3). A mesma autora considera na ação tutorial a palavra constitui um recurso insubstituível, dado que com ela se estabelece um vínculo e ambos estimulam e enriquecem as relações humanas (idem). Pagliarulo afirma que a tutoria se constitui com palavras, palavras para escutar, para compreender, para orientar, para expressar, para explicar, para relacionar, ou seja, para construir a comunicação.
No entanto, quando falamos de tutorias na escola, torna-se necessário que a ação tutorial não surja de forma isolada, mas enquadrada num plano tutorial que marque, claramente, a escola como um fator de proteção e não mais um fator de risco. Por outro lado, é essencial que, numa perspetiva ecológica, a ação tutorial com estes jovens em situação de grande vulnerabilidade se desenvolva em conjunto com outros parceiros e todos a trabalhar na mesma direção quiçá os processos de resiliência sejam mais frequentes.

Cecconello, A. M. (2003). Resiliência e vulnerabilidade em famílias em situação de risco. Tese de Doutoramento não publicada, Curso de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre/RS. Disponível em www.psicologia.ufrgs.br/cep_rua, Acedido em 2011-05-07

Pagliarulo E. (s/d). Tutoría educativa: espacio para la construcción de resiliência.
Acedido em: 2011-5-07

Yunes, M. (2003). Psicologia positiva e resiliência: o foco no indivíduo e na família. In Psicologia em Estudo, Maringá,v. 8, num. esp., p. 75-84, 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v8nspe/v8nesa10.pdf
Acedido em 2011-05-08

Perfil do professor tutor


A adoção de planos tutoriais como forma de resolver alguns problemas de aprendizagem ou de adaptação de alguns alunos deve ser objeto de uma cuidada planificação. Um dos aspetos fundamentais para o sucesso destes planos é a seleção dos professores tutores. A legislação identifica requisitos gerais para o exercício da função deixando às escolas alguma autonomia na definição do perfil de professor tutor. Mesmo sabendo que a atividade docente se desenvolve tendo em conta a dimensão profissional, social e ética, nem todos os professores têm a mesma probabilidade de eficácia numa ação tutorial. Os professores também têm características próprias que os distinguem. Da mesma forma que nem todos possuem o perfil adequado para ser coordenadores de outras estruturas de supervisão e coordenação pedagógicas ou para o exercício de funções de gestão, também a função de tutor requer qualidades profissionais e pessoais específicas.
Para Azevedo e Nascimento (2007), o professor tutor é “alguém que é capaz de potenciar o projeto e sentido de vida daquele que acolhe, contribuindo para que todas as suas potencialidades sejam despertas e estimuladas” (p. 100).  Os mesmos autores, citando Rosinski, referem que é importante o “genuíno desejo de ajudar as pessoas a gerarem os seu potencial” (p. 101), bem como “uma paixão para ajudar as pessoas a crescerem e a serem mais bem sucedidas” (idem). Rosinski refere ainda a importância de escutar sem julgar, ou dito de outra forma a capacidade de falar com, em vez de falar para.
Como se consegue ter um perfil adequado à função de tutor? Antes de mais são necessárias algumas características pessoais como sejam a capacidade de diálogo, o altruísmo, a capacidade de compreender diferentes pontos de vista,… A formação na área da supervisão e coordenação pedagógica poderá ser um bom contributo para  organização e implementação dos planos de tutoria.

Azevedo, N. e Nascimento, A. (2007). Modelo de tutoria: Construção dialógica de sentido(s). Interações, n.º. 7, pp. 97-115.

O professor tutor


A tarefa do professor tutor junto dos tutorandos é complexa e abrange diversas áreas de intervenção. A sua ação consiste em primeiro lugar em garantir uma relação de proximidade e aceitação por parte do aluno. Só conseguindo a confiança do tutorando é possível partir para uma intervenção bem sucedida. Entre outras funções, o professor tutor deve:
  • Acompanhar os alunos na vida escolar;
  • Conhecer as necessidades e interesses dos tutorandos;
  • Ajudar na construção do seu projeto de vida;
  • Contribuir para a realização pessoal dos tutorandos;
  • Melhorar a convivência social;
  • Melhorar a autoestima;
  • Combater o abandono escolar;
  • Diminuir o insucesso escolar;
O papel do professor tutor tem, assim, uma grande abrangência. A sua capacidade de diálogo e a sua assertividade são características fundamentais para conseguir alcançar os objetivos propostos. É muito importante que o professor tutor consiga conhecer e compreender as opiniões do tutorando e, numa relação mais simétrica, orientá-lo. Usando a metáfora da carruagem de Coelho (2003), trata-se de “transportar um indivíduo de um ponto de partida para o destino desejado (Azevedo e Nascimento, 2007, p. 102).

Ramirez, M; Flores, O. e Pajarito, E. (s/d). Un acercamiento a la orientación y tutoría en secundaria: La opinión de los estudiantes. Dirección de Actualización y Superación del Magisterio en Jalisco.

Azevedo, N. e Nascimento, A. (2007). Modelo de tutoria: Construção dialógica de sentido(s). Interações, n.º. 7, PP. 97-115.

O plano tutorial

 “O que determina a vida do ser humano não são as suas necessidades, mas as suas potencialidades” (Azevedo e Nascimento, 2007, p. 111).

Esta perspetiva enunciada por Azevedo e Nascimento pode ser um bom ponto de partida para a ação tutorial. Os alunos, por vezes, revelam dificuldades de adaptação ao meio escolar, mas não nos devemos centrar apenas nessas dificuldades, pelo contrário, o tutor deve centrar-se nas potencialidades do aluno para melhorar a sua autoestima, para com ele construir um projeto de vida que o possa conduzir a situações de sucesso, seja escolar, seja, posteriormente, pessoal e profissional. As mesmas autoras referem que o modelo de tutoria “só fará sentido pela coconstrução alicerçada num processo dialógico em que «a unidade na diversidade» (Freire, 1984) é alcançada” (p.102).  O tutor deve acompanhar de, forma sistemática os tutorandos, dialogando, apoiando, dando pistas para a tomada de decisões, incitando, facilitando,… mas o aluno tem que se assumir “como construtor principal do seu sentido de vida” (idem). O tutor deve acreditar nas potencialidades (somatório da capacidade e do querer/poder) de cada um dos seus tutorandos e facultar-lhe os recursos necessários para as aplicar na prática.
O professor tutor deve orientar a sua missão de forma a que a escola não acentue as diferenças de origem, mas procure a igualdade (Ribeiro et al., 2010).  A ação tutorial, apesar de se centrar muito no professor e no aluno, deve contar, numa perspetiva ecológica, com a colaboração de uma rede social alargada, que pode ajudar a ultrapassar situações de risco/fragilidade social. A intervenção do tutor deve, assim, ser convenientemente planificada e articulada com os restantes parceiros, sendo que a família deve constituir um parceiro de primordial importância. O professor tutor deve constituir uma peça-chave na aquisição de competências que baseadas num projeto de vida contribuam para o sucesso pessoal e profissional futuro.
A Escola não pode substituir a família nem as outras instituições de cariz social, no entanto não deve contribuir para que as assimetrias sociais de acentuem. Pelo contrário, tem um papel importante na inversão de situações de risco, permitindo que os alunos adotem processos de resiliência face às vulnerabilidades que apresentam. Para poder ser eficaz a ação tutorial deve ser enquadrada numa ação global das escolas de modo a poderem ser implementadas as tutorias de forma precoce.

Azevedo, N. e Nascimento, A. (2007). Modelo de tutoria: Construção dialógica de sentido(s). Interações, n.º. 7, PP. 97-115.
Ribeiro, E. et al. (2010). A tutoria em contexto de ensino não superior: proposta de  acompanhamento socioeducativo em equipa multidisciplinar. Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde. Instituto Politécnico de Viseu. pp. 161-171

As tutorias na escola

Embora possamos projetar o futuro e perspetivar uma Escola diferente, temos, enquanto professores, uma tarefa educativa a cumprir, que contribua para o desenvolvimento de todos e de cada um dos alunos que frequentam a instituição educativa.
Como já referi anteriormente, a diversidade dos alunos torna necessária a adequação de estratégias individuais para que alguns alunos consigam aproveitar o tempo que passam na escola. Uma das estratégias que tem sido utilizada com algum sucesso é a tutoria. No Código Civil, o tutor é o substituto dos pais. Por norma, os pais educam, orientam, dão apoio aos filhos. Na Escola, esse papel cabe, essencialmente, aos professores. De algum modo, tendo em conta o perfil de desempenho do professor definido pelos normativos legais, os professores deveriam ser capazes de desenvolver uma ação tutorial com os seus alunos. Este papel tem sido especialmente assumido pelo professor titular de turma e pelo diretor de turma. Se no primeiro ciclo, a relação de proximidade diária permite ao professor uma ação tutorial mais eficaz, nos restantes ciclos, o diretor de turma tem a seu cargo inúmeras tarefas administrativas, de coordenação do trabalho da turma, de atendimento a alunos e encarregados de educação, etc.. Para essa tarefa complexa são-lhe atribuídos, na maior parte das escolas, dois escassos tempos letivos. Assim, torna-se muitas vezes necessária a intervenção de outros recursos humanos. A figura de professor tutor pode, assim, responder à necessidade das escolas e dos alunos. Alguns alunos pelas suas diferenças culturais, étnicas, intelectuais,… precisam de um acompanhamento, de uma orientação mais próxima. Para que uma tutoria possa resultar, é necessário que tanto tutor, como  tutorando a aceitem.

A Escola atual

“A organização escolar vê-se compelida a responder aos desafios que lhe são colocados no sentido de se confrontar com uma população cada vez mais heterogénea, fruto das mudanças inerentes ao mundo atual” (Ribeiro et al., 2010, p. 163).

De facto, a diversidade existente na escola atual implica que as estratégias ultrapassem largamente o tradicional contexto de sala de aula e consequente relação unidirecional professor-aluno. Atualmente, a escola não se pode resumir ao ensino, os alunos têm que ser implicados na sua aprendizagem. A motivação para a aprendizagem apesar de ser, muitas vezes, intrínseca ao aluno, tem, em muitas outras, de ser trabalhada através de estratégias dinâmicas. Muitos alunos não veem per si a escola como importante para as suas vidas. Veem-na, antes, como um local onde, por força da organização social vigente, têm que passar grandes períodos de tempo. A escola parece não lhes oferecer aquilo de que eles necessitam e o que esta lhes ensina não é assumido como necessário.
Estes alunos devem fazer a Escola  pensar e, como organização aprendente que deve ser,  retirar ilações e adequar os seus procedimentos. Pode atuar de duas formas: se identifica que o problema está nos alunos, toda a estratégia se centrará na modificação do seu comportamento; se reconhece que a forma como exerce a sua função educativa está errada, deve modificá-la. Autores futuristas, como Alvin Toffler, defendem que o modelo de Escola que se encontra instituído na maior parte dos sistemas educativos, deve ser simplesmente substituído porque não educa para o futuro, mas para o passado e não tem em conta muitas das necessidades do presente. No entanto, as grandes reformas são muitas vezes lentas e são alvo de inúmeras resistências, pelo que é urgente atuar.

Ribeiro, E. et al. (2010). A tutoria em contexto de ensino não superior: proposta de  acompanhamento socioeducativo em equipa multidisciplinar. Centro de Estudos em Educação, Tecnologias e Saúde. Instituto Politécnico de Viseu. pp. 161-171