Relações inter-pessoais

Relações inter-pessoais

Novo Acordo Ortográfico

O novo acordo ortográfico está em vigor. No entanto, ainda tenho algumas dificuldades em cumprir todos os preceitos. A partir de 17 de Abril, vou tentar escrever de forma adequada às novas regras. Vou tentar!!

sábado, 25 de junho de 2011

O conflito na sociedade actual - breve reflexão pessoal

De acordo com inúmeros autores, o conflito entre pessoas é natural porque cada sujeito possui características próprias, modos de pensar distintos. Porém, este conflito em estado latente deve ser resolvido de forma pacífica, sem recurso à violência, à agressão. Sabemos que nem sempre a sociedade actual não funciona assim. Os conflitos militares, o terrorismo, o tráfico de pessoas,… são maus exemplos. A comunicação social e o cinema são também incentivadores de violência. A influência que estes meios exercem na população, em geral, e na população jovem, em particular, não são desprezíveis e a par dos jogos para PC, Gameboy, Playstation,… dão uma imagem de que a violência gratuita não tem consequências.
O conflito escolar é também frequente porque na escola há diversos interesses, diversas opiniões. A escola na sua função educadora deve abordar o conflito de forma natural. Deve aceitá-lo, saber as suas causas, como e quando pode surgir e deve incutir nos alunos uma forma pacífica de o resolver. As estratégias devem ser consistentes e espelhar a dinâmica democrática da escola, em que os direitos de todos são respeitados. Uma escola que viva a democracia e a cidadania contribuirá para a educação para a PAZ.
A prevenção deve prevalecer sobre a remediação. As abordagens sistémicas são, para mim, as que podem apresentar melhores resultados. Todavia, para os conflitos de maior dimensão, a escola deve adoptar estratégias rápidas e eficazes de forma a minorar as suas consequências. Os gabinetes de gestão de conflitos podem ser necessários em muitas escolas, tal o número de ocorrências. A mediação é também uma estratégia que apresenta bons resultados se for correctamente planeada e acompanhada. Esta mediação pode ser com a intervenção de adultos ou jovens. Os alunos se bem orientados, se receberem formação e se forem acompanhados ao longo do processo podem ser muito eficazes, uma vez que serão aceites pelos colegas. Há grandes vantagens para os mediadores que desenvolvem a capacidade de mediação.
Por vezes, surgem nas escolas conflitos mal resolvidos. Estes conflitos são espremidos pela comunicação social, sem nenhum ou pouco cuidado, em saber as causas, em ir mais além. Passa-se uma imagem, muitas vezes destorcida da realidade, procurando culpados, sendo, frequentemente, apontadas culpas à escola e aos professores.  Nestas situações, o discurso opinático dos media explora as imagens de forma pouco moral e pouco ética.
Em suma, sendo o conflito natural, é imprescindível que a escola o encare de forma positiva, que aprenda a resolvê-lo, apelando ao espírito democrático, ao respeito pelos direitos de todo e cada um dos seus actores. No entanto, para que a espiral de violência na sociedade tenha um fim, seria importante que a nível mundial houvesse menos exemplos de violência e que TODOS quisessem uma cultura de paz e de convivência.

O conflito

O conflito é a oposição entre duas exigências antagonistas” (Dicionário de Psicologia da Criança). Para Chrispino (2007), “conflito é toda opinião divergente ou maneira diferente de ver ou interpretar algum acontecimento” (p. 15), é próprio da natureza humana e pode ser intrapessoal (conflito consigo mesmo) ou interpessoal.
Costa e Matos (2007) destacam que independentemente do tipo de conflito, o “contexto proximal e distal em que ocorre” (p.76) modelará sempre todo o processo conflitual, ou seja, numa perspetiva sistémica, veem o conflito numa lógica circular e não numa relação linear de causa-efeito (p. 14).  Deutsch (1973) “sugere que o conflito seja perspetivado não com uma conotação negativa mas como algo neutro, uma vez que os seus resultados é que podem ser negativos ou positivos  dependendo da forma como o conflito é gerido” (Costa e Matos, 2007, p. 75). As mesmas autoras (idem) referem a inevitabilidade dos conflitos, não sendo, só por si, nem bons nem maus. Podemos observar conflitos intrapessoais em todas as idades, mas estes assumem uma grande importância na infância e na adolescência e a sua resolução contribui para a estruturação da personalidade.
Numa abordagem cognitivo-estrutural, o conflito constitui um elemento fundamental no processo de maturação cognitiva de um indivíduo, dado que permite às crianças e adolescentes a aquisição de novas estruturas cognitivas.

Referências Bibliográficas
Chrispino A. (2007). Gestão do conflito Escolar: da classificação dos conflitos aos modelos de mediação. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. Rio de Janeiro, v.15, n.º 54, jan/mar 2007, p. 11-28.
Costa, E. e Matos, P. (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Universidade Aberta.
Dicionário de Psicologia da Criança. Verbo. Lisboa.

O conflito escolar

Os conflitos escolares são frequentes porque atualmente frequentam a escola “alunos com diferentes vivências, com diferentes expectativas, com diferentes sonhos, com diferentes valores, com diferentes culturas e com diferentes hábitos” (Chrispino, 2007, p. 16). Cada aluno tem a sua personalidade, os seus gostos e preferências, … que sustentam as atitudes que são assumidas em cada momento. O choque, a divergência, a oposição são, assim, situações naturais e, naturalmente, frequentes. Ao falarmos de conflito escolar temos que pensar, principalmente, nas divergências entre alunos, nas divergências entre alunos e professores ou outros adultos da escola e mesmo entre professores. Existem também diferentes perspetivas entre os elementos da escola (professores, funcionários, gestores) e os pais e encarregados de educação. Os conflitos escolares são, assim, uma realidade.
Segundo Jonhson e Jonhson (1995), citados por Costa e Matos (2007), os conflitos nas escolas podem ser classificados como:
·         Controvérsia - as ideias, informações,…opiniões de um indivíduo são incompatíveis com as de outro, mas em que ambos procuram um entendimento;
·         Conflito conceptual – existem, simultaneamente, ideias incompatíveis, não sendo a informação recebida compatível com o conhecimento pré-existente, e o indivíduo deteta controvérsia com posições anteriores;
·         Conflito de interesses – na persecução dos seus objetivos, as ações de um sujeito colidem com os propósitos de outro;
·         Conflito desenvolvimental – forças opostas de estabilidade e de mudança coocorrem em atividades incompatíveis entre adultos e crianças. (pp. 75, 76)
A Escola em vez de negar a sua existência de ou de os ignorar à espera que estes desapareçam deve aprender a resolvê-los, encarando-os como potenciadores do desenvolvimento dos alunos e professores. Para Chrispino (2007), a Escola deve ter consciência do seu papel na superação dos conflitos para, assim, cumprir as suas finalidades e alerta para a necessidade de perceber a existência do conflito e de reagir positivamente, transformando-o numa ferramenta que denomina de «tecnologia social».
Costa e Matos (2007) afirmam mesmo que o “conflito existe e é necessário para a mudança” (p. 76) e defendem que “o objetivo não é evitar o conflito mas lidar com ele de uma forma que minimize o seu impacto negativo e maximize o potencial positivo inerente” (idem). Os conflitos escolares mais comuns são interpessoais e podem transformar-se em fenómenos como o insucesso escolar, a indisciplina na sala de aula, o absentismo, a violência escolar e, mesmo, o abandono escolar.
Os conflitos escolares podem, assim, ser aproveitados para o desenvolvimento dos diversos atores da Escola. No entanto, estes conflitos tornam-se, por vezes, violentos, e para além do necessário trabalho de prevenção, é indispensável uma intervenção remediativa. Os jovens revelam alguma agressividade natural que alguns autores como Bertão (2004) consideram essencial no desenvolvimento. Contudo, os jovens devem aprender a controlar essa agressividade natural e aprender a resolvê-los  de forma pacífica, através do diálogo. Atualmente, entre os jovens a resolução violenta dos conflitos é frequente. Perante a existência de atos violentos não podemos adotar posições extremadas: «dramatização excessiva» ou «denegação». A Escola tem de assumir um papel preponderante na transmissão de valores, não pode ser neutra, deve educar para a Paz, para a democracia, para os direitos humanos. Mais do que adotar estratégias remediativas na resolução de conflitos, deve ser adotada uma estratégia global que promova a aceitação das diferenças e a coabitação entre todos em que os valores do diálogo sejam incutidos.

Referências Bibliográficas
Bertão, A. (2004). Violência, agressividade e indisciplina em meio escolar: perdidos em busca do amor. In Revista Psicológica, n.º 36, 149-162.
Chrispino A. (2007). Gestão do conflito Escolar: da classificação dos conflitos aos modelos de mediação. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em Educação. Rio de Janeiro, v.15, n.º 54, jan/mar 2007, p. 11-28.
Costa, E. e Matos, P. (2007). Abordagem sistémica do conflito. Lisboa: Universidade Aberta.

O que é o Bullying?

Este termo de origem anglo-saxónica surgiu em Portugal para denominar um certo tipo de comportamento violento, cuja tradução é difícil. O bullying escolar não é um fenómeno recente. Thomas Hughes, num romance que retrata os anos 50 do séc. XIX,  relata o caso de um rapaz vítima de um grupo de bullies. O interesse por esta problemática, de forma mais consistente, teve início com os estudos sobre violência escolar de Dan Olweus, professor na Universidade de Bergen na Noruega, na década de 70 do séc. XX. Foi, no entanto, depois do suicídio de três meninos entre dez e catorze anos na Noruega, em 1983, que a temática ganhou grande desenvolvimento. Outro marco significativo foi a “Conferência Europeia sobre iniciativas para combater o bullying nas escolas”, em 1998. Atualmente, a bibliografia é extensa e se fizermos uma pesquisa com a palavra “bullying” na Internet, surgem-nos mais de quinze milhões de entradas. Debarbieux (2007) considera que “a importância concedida a este fenómeno deve-se ao seu impacto sobre o clima e o sucesso escolar e às consequências psicológicas graves que ele pode arrastar” (p. 107)
Definir o bullying constitui uma tarefa difícil, uma vez que envolve inúmeras situações. Há no entanto, alguns traços comuns nas definições encontradas. Para Olweus citado por Debardieux (2007), “bullying é o abuso de poder agressivo e sistemático a longo prazo” (p. 107). Haber (2007) define bullying “um padrão repetitivo ou crónico de um comportamento lesivo que envolve o intuito de manter um desequilíbrio de poder” (p.20). “O bullying é o abuso sistemático de poder” (Pereira, Silva e Nunes, 2009, p. 455 e Pereira e Pinto, 1999, p. 20). “É uma forma de comportamento agressivo, entre pares, usualmente maldosa, deliberada e persistente, podendo durar semanas, meses ou anos, sendo difícil às vítimas defenderem-se a si próprias” (Pereira, 2001; Smith; Sharp, 1994, citados por Pereira, Silva e Nunes, 2009, p. 458). “Farrington (1993) descreve o bullying como a opressão repetida, psicológica ou física em que existe diferenças de poder, ou seja, o agressor tem mais poder que a vítima” (Pereira, 2006, p.45).
Sintetizando, o bullying é a ação em que um ou mais indivíduos (agressor/bully) agridem outro(s) (vítima/bullied) de forma intencional e repetida ao longo do tempo. Este tipo de conduta envolve, também, outros indivíduos que assistem de forma passiva (testemunhas).
De acordo com os estudos nacionais e internacionais realizados, podemos encontrar situações de bullying escolar nos diversos níveis e ciclos de ensino. De acordo com Beane (2006), “o bullying começa no jardim de infância, parece atingir o seu auge durante os 2.º e 3.º ciclos do Ensino Básico e declina no Ensino secundário” (p. 9). Pereira (2006) refere, ainda que com o aumento da idade o número de situações de vitimação reduz, embora “os casos persistentes sejam mais graves e refinados” (p.49).
Tanto rapazes como raparigas estão implicados em ações de bullying, embora de acordo com estudos de Matos & Carvalhosa (2001) afete mais frequentemente os rapazes. O bullying no masculino tem uma prevalência física, enquanto no feminino incide principalmente na ação psicológica. Segundo Pereira (2006), as raparigas são mais sujeitas a agressões indiretas, enquanto nos rapazes e nas crianças mais novas são mais frequentes os confrontos diretos. Os estudos de Pereira e Pinto (1999) também indicam que o bullying é mais frequente entre rapazes do entre raparigas, confirmando os estudos de Garcia e Perez (1989); Roland (1989); Whitney e Smith (1993); O’Moore, Kirkham e Smith (1997).

Referências Bibliográficas
Beane, A. (2006). A sala de aula sem Bullying. Porto Editora. Porto.
Carvalhosa, S. F., Lima, L. e Matos, M.G. (2001). Bullying – A provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Disponível em www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v19n4/v19n4a04.pdf. Acedido em maio de 2011.
Debarbieux, E. (2007). Violência na Escola – Um desafio Mundial?. Horizontes Pedagógicos. Instituto Piaget. Lisboa.
Haber, J. e Glatzer J. (2009). Bullying – Manual antiagressão. Casa das Letras. Alfragide.
Pereira, B. e Pinto, A. (1999). Dinamizar a Escola para Prevenir a Violência Entre Pares. Sonhar, VI, 1 (Maio-Agosto), pp. 19-33
Pereira, B. (2006). Prevenção da violência em contexto escolar: Diagnóstico e programa de intervenção. In João Clemente Souza de Neto e Maria Letícia B. P. Nascimento. Infância: Violência, Instituições e Políticas Públicas. São Paulo, Expressão e Arte Editora, pp. 43-51
Pereira, B.; Silva, M. e Nunes, B. (2009). Descrever o Bullying na Escola: estudo de um agrupamento de escolas no interior de Portugal. In Revista Diálogo educação, Curitiba, v. 9, n.º 28, pp. 455-466, set/dez. 2009

Tipos de Bullying

Este tipo de agressão pode ser física, verbal, psicológica ou, mesmo, sexual. O bullying regista-se na escola em diferentes tipos tais como o físico, verbal e indireto e em diferentes espaços” (Pereira, Silva e Nunes, 2009, p. 455)
O bullying físico pode-se evidenciar através de ações como: bater, empurrar, dar pontapés, rasteirar, provocar estragos, destruir algo do colega (Pereira e Pinto, 1999).
Ao nível psicológico, pode traduzir-se em ameaças, chamar nomes, insultos, mentiras, falsos testemunhos, excluir, ignorar o colega, não respeitar o colega, (Pereira e Pinto, 1999), meter medo, espalhar histórias humilhantes, enviar bilhetes ameaçadores (Pereira, 2006). “O chamar nomes e o dar um nome insultuoso a um colega, nome que o pode marcar ao longo de todo o percurso escolar é uma prática muito generalizada entre as crianças, sendo muitas vezes aceite como algo contra o qual não vale a pena lutar” (Pereira, 2006, p. 48). A mesma autora refere ainda, que esta situação é também muitas vezes aceite pelos professores.
Pereira (2009) confirma, a partir dos estudos realizados em escolas transmontanas, que a vitimização mais frequente é o insulto (1 em cada 4), seguindo-se a agressão física (1 em cada 5). Beane (2006) refere que a situação de bullying mais frequente é a provocação, seguindo-se o abuso físico, nos rapazes, e o ostracismo social, nas raparigas (p. 13).
Por vezes, o bullie fica na sombra, instigando as crianças vitimizadas a fazer coisas que não queriam, como por exemplo roubar. Existem também situações em que um sujeito assume simultaneamente o papel de vítima e de agressor.
Na atualidade, a cibercultura faz parte vida das crianças e jovens. O acesso a telemóveis e a computadores está massificado. As mensagens, a internet, os fóruns, os chats, as redes sociais,… fazem parte da vida diária de quase todos os alunos. Surgiu, assim um novo tipo de bullying: o ciberbullying. Este tipo de agressão pode ocorrer em complemento do bullying, ou como uma forma alternativa. As agressões surgem através dos meios eletrónicos e digitais, manifestando-se, entre outras formas, por mensagens difamatórias ou e-mails ameaçadores. Este tipo de agressão torna-se muito poderoso e mantém no anonimato os agressores, o que pode aumentar a crueldade e dificultar a intervenção.

Referências Bibliográficas
Beane, A. (2006). A sala de aula sem Bullying. Porto Editora. Porto.
Pereira, B. e Pinto, A. (1999). Dinamizar a Escola para Prevenir a Violência Entre Pares. Sonhar, VI, 1 (Maio-Agosto), pp. 19-33
Pereira, B. (2006). Prevenção da violência em contexto escolar: Diagnóstico e programa de intervenção. In João Clemente Souza de Neto e Maria Letícia B. P. Nascimento. Infância: Violência, Instituições e Políticas Públicas. São Paulo, Expressão e Arte Editora, pp. 43-51
Pereira, B.; Silva, M. e Nunes, B. (2009). Descrever o Bullying na Escola: estudo de um agrupamento de escolas no interior de Portugal. In Revista Diálogo educação, Curitiba, v. 9, n.º 28, pp. 455-466, set/dez. 2009

Locais onde ocorrem as agressões

Nas escolas há muitos espaços com condições propícias para a ocorrência de bullying, o que aliado à dificuldade de supervisão, motivado pelo elevado número de alunos e pelo reduzido número de funcionários, facilita condutas deste tipo. As ações de bullying também podem ocorrer no percurso de ida para a escola e volta para casa, mas de acordo com os estudos de Pereira e Pinto (1999), que confirmam outros estudos nacionais e internacionais, “a agressão entre pares ocorre sobretudo dentro dos muros e redes da escola e, em particular nos recreios” (p. 26).
Pereira, Silva e Nunes (2009, p. 461), nos estudos realizados em escolas transmontanas, identificaram como locais mais frequentes de agressões os recreios, corredores, as escadas e a sala de aula, confirmando estudos anteriores de Pereira (1997, 2008) e Pereira et al. (1996, 2004). Pereira (2006) destaca também os recreios como o local onde o bullying é mais frequente. Pereira e Pinto (1999, p. 25) identificaram, sequencialmente, os seguintes locais: recreios, sala de aula, corredores, cantina.

Referências Bibliográficas
Pereira, B. e Pinto, A. (1999). Dinamizar a Escola para Prevenir a Violência Entre Pares. Sonhar, VI, 1 (Maio-Agosto), pp. 19-33
Pereira, B. (2006). Prevenção da violência em contexto escolar: Diagnóstico e programa de intervenção. In João Clemente Souza de Neto e Maria Letícia B. P. Nascimento. Infância: Violência, Instituições e Políticas Públicas. São Paulo, Expressão e Arte Editora, pp. 43-51
Pereira, B.; Silva, M. e Nunes, B. (2009). Descrever o Bullying na Escola: estudo de um agrupamento de escolas no interior de Portugal. In Revista Diálogo educação, Curitiba, v. 9, n.º 28, pp. 455-466, set/dez. 2009

 

A vítima - bullied

Um aluno é vítima quando é exposto, de forma repetida e por um período prolongado, a ações que lhe causam mal-estar e são provocadas por um ou mais colegas” (Olweus, 1991, citado por Pereira, 2006: p. 45). Pereira (2009) considerou vítimas de bullying, nos estudos realizados, os alunos que foram alvo de vitimação três ou mais vezes. Apesar de qualquer aluno poder ser vítima de bullying, existem alguns fatores que aumentam a probabilidade de ser alvo de agressões deste tipo. Para Beane (2006), “as crianças são vítimas de bullying devido à sua aparência física, aos seus maneirismos, ou simplesmente porque não encaixam” (p. 14), como é o caso das crianças portadoras de deficiência ou doença crónica. Este autor destaca também que as vítimas são, por vezes, “crianças cujos os pais são demasiado protetores ou dominadores” (p. 14). Pereira (2006) destaca que as crianças das classes sociais extremas (mais elevada e a mais baixa) são mais propensas a situações de vitimação.
Pereira (2006) confirmou estudos de Whitney e Smith (1993), segundo os quais os rapazes são mais vitimizados do que as raparigas. Pereira e Pinto (1999) referem que “ser vítima na escola deixa marcas negativas, afetando o sujeito durante o período em que ocorre a vitimação, ou a longo prazo” (p. 28). Beane (2006, p. 15) refere que a curto prazo, “vítimas podem sentir-se assustadas e solitárias, e frequentemente tentam evitar as situações nas quais são atormentadas.” enquanto que a longo prazo, “as crianças que são vítimas de bullying começam a encarar-se a si mesmas como não tendo valor ou como sendo inferiores, e o seu desempenho sofre” (idem). Parker e Asher (1987), citados por Pereira (2006) alertam que a “rejeição a que as vítimas são votadas é um sólido indicador de problemas de ajustamento na adolescência e na vida adulta” (p. 48).

Referências Bibliográficas
Beane, A. (2006). A sala de aula sem Bullying. Porto Editora. Porto.
Haber, J. e Glatzer J. (2009). Bullying – Manual antiagressão. Casa das Letras. Alfragide.
Pereira, B. e Pinto, A. (1999). Dinamizar a Escola para Prevenir a Violência Entre Pares. Sonhar, VI, 1 (Maio-Agosto), pp. 19-33
Pereira, B. (2006). Prevenção da violência em contexto escolar: Diagnóstico e programa de intervenção. In João Clemente Souza de Neto e Maria Letícia B. P. Nascimento. Infância: Violência, Instituições e Políticas Públicas. São Paulo, Expressão e Arte Editora, pp. 43-51

O agressor - bully

De acordo com a definição de Boulton e Smith (1994), “o provocador  ou agressor é aquele que frequentemente implica com os outros, ou que lhes bate, ou que os arrelia ou que lhes faz coisas desagradáveis sem uma boa razão” (Carvalhosa, Lima e Matos, 2001, p. 523). Segundo Pereira, Silva e Nunes (2009), os agressores apresentam perfis diversos: uns podem ser violentos outros manipuladores. As mesmas autoras defendem que o protótipo de agressor encorpado e forte fisicamente não corresponde totalmente à realidade, uma vez que os agressores podem ser pessoas atenciosas que manipulam os outros para alcançar os seus objectivos (e.g. roubar, extorquir). Para Beane (2006), “os bullies são crianças que precisam de sentir que têm poder, e que aprenderam que o bullying lhes satisfaz essa necessidade” (p. 13). De acordo com o mesmo autor, o que distingue os bullies “de uma criança que ocasionalmente  provoca alguém é o padrão repetido de intimidação física ou psicológica” (idem). “O insucesso escolar parece estar associado ao aumento percentual de crianças envolvidas em bullying, sejam agressoras ou vítimas” (Pereira, et al., 2004; Pereira, 2008), citados por Pereira, Silva e Nunes (2009, p. 459).
Relativamente ao sexo, como no caso das vítimas, também os agressores podem ser de ambos os sexos. “Os meninos vitimizam mais que as meninas e utilizam mais a agressão física, com confronto físico e verbal e comportamentos agressivos assumidos, sendo que as meninas quando agressoras, usam mais a agressão indirecta a exemplo de fofocas, excluir outras do grupo, espalhar rumores e histórias humilhantes” (Jankauskiene et al., 2008; Nansel et al., 2001; Olweus, 1993; Pereira, 2008) citados por Pereira, Silva e Nunes (2009, p. 458).
Pereira e Pinto (1999) destacam as seguintes características: têm a intenção de magoar; manifestam satisfação quando causam mal; não apresentam sentimento de culpa; são provocadores; muitas vezes provêm de um meio familiar violento; não têm empatia pelo outro. Pereira (2006) realça, ainda que “os comportamentos desviantes ou perturbações de conduta vão permanecer ou agravar-se ao longo dos anos” (p. 47). Griffin (1999) e Pereira et al. (1994) afirmam que os provocadores têm mais probabilidade de se «envolverem na delinquência e na violência» (Carvalhosa, Lima e Matos, 2001, p. 524).
Os bullies devem merecer a atenção da escola não só pelo mal que provocam nas vítimas, mas também pelos efeitos que este tipo de conduta terá no futuro destes jovens.

Referências Bibliográficas
Beane, A. (2006). A sala de aula sem Bullying. Porto Editora. Porto.
Carvalhosa, S. F., Lima, L. e Matos, M.G. (2001). Bullying – A provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Disponível em www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/aps/v19n4/v19n4a04.pdf. Acedido em maio de 2011.
Pereira, B. e Pinto, A. (1999). Dinamizar a Escola para Prevenir a Violência Entre Pares. Sonhar, VI, 1 (Maio-Agosto), pp. 19-33
Pereira, B. (2006). Prevenção da violência em contexto escolar: Diagnóstico e programa de intervenção. In João Clemente Souza de Neto e Maria Letícia B. P. Nascimento. Infância: Violência, Instituições e Políticas Públicas. São Paulo, Expressão e Arte Editora, pp. 43-51
Pereira, B.; Silva, M. e Nunes, B. (2009). Descrever o Bullying na Escola: estudo de um agrupamento de escolas no interior de Portugal. In Revista Diálogo educação, Curitiba, v. 9, n.º 28, pp. 455-466, set/dez. 2009

A testemunha

Para além de agressores e de vítimas, o bullying envolve também outras crianças e jovens que presenciam os atos, mas são normalmente incapazes de atuar, por receio de serem alvo de represálias. Para Cowie (1998), citado por Pereira e Pinto (1999) “as crianças que observam um colega a ser vítima de outro, e que têm consciência da injustiça que está a ser cometida, sentem-se impotentes para os ajudar e também sofrem” (p. 21). Pereira, Silva e Nunes (2009), destacam que “o bullying tem efeitos negativos sobre as próprias crianças (vítimas e agressores) e sobre as crianças que observam estas práticas (observadores passivos)” (p. 458). Também Haber (2009) afirma que o bullying implica graves consequências a curto e longo prazo para todos os envolvidos, incluindo os observadores ou observadoras.

Referências Bibliográficas
Haber, J. e Glatzer J. (2009). Bullying – Manual antiagressão. Casa das Letras. Alfragide.
Pereira, B. e Pinto, A. (1999). Dinamizar a Escola para Prevenir a Violência Entre Pares. Sonhar, VI, 1 (Maio-Agosto), pp. 19-33
Pereira, B.; Silva, M. e Nunes, B. (2009). Descrever o Bullying na Escola: estudo de um agrupamento de escolas no interior de Portugal. In Revista Diálogo educação, Curitiba, v. 9, n.º 28, pp. 455-466, set/dez. 2009